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Dia 10: Santiago de Compostela (Espanha) - Compostela, hotel, briga, paz e jantar

Written By Luciana Sabbag on terça-feira, julho 21, 2015 | terça-feira, julho 21, 2015

Quando terminamos a última etapa do Caminho de Santiago que, para nós, foi de Salceda a Santiago de Compostela (29,9 Km), ficamos sentadas em frente à Catedral por mais de uma hora, chorando e rezando, rezando e chorando, como contei no último post.

Passada a emoção (não toda, claro), eu e a Cintia precisávamos pegar nossas compostelas, que são os certificados de conclusão do Caminho de Santiago. O Diego já tinha retirado a dele -- e ficado horas na fila. Como já era tarde, presumimos que não teria tanta gente assim terminando o Caminho e fomos, então, para a Acolhida de Peregrinos.

Na fila, encontramos um dos peregrinos que conhecemos pelo caminho, o Alvaro Lazaga, um vlogger famoso por fazer o Camino Benidorm. Essa rota tem 1.331 Km (!) e começa na costa mediterrânea, na cidade de Benidorm, em Alicante, na Espanha. Trocamos alguns presentinhos e tiramos fotos para recordação. :D

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Esperamos uns 20 minutos na fila, até que nos chamaram. Mostramos os nossos passaportes de peregrinas, com todos os carimbos (selos) que provam a distância percorrida, e pegamos a compostela em latim que é comum a todos os peregrinos. Mas, há uma outra compostela, com certificado de distância, que é dada somente a quem faz o Caminho de Santiago por motivos religiosos, que foi o nosso caso.

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Pagamos 2 euros pela primeira compostela e mais 3 euros pela compostela religiosa. Na verdade, esses valores são doações para a Catedral -- fica a seu critério dar ou não (e se quiser dar mais também). Mas atenção: as compostelas só são entregues aos peregrinos que percorrem, no mínimo, 150 Km a pé ou 200 Km de bicicleta. E, veja, como existem etapas pré-definidas, se você começa o Caminho em uma cidade entre duas etapas, ela não é contabilizada. Nós começamos em Pedrafita do Cebreiro, portanto, percorremos 160 Km -- e não 155 Km, como está na minha compostela. Acontece que Pedrafita não é ponto inicial, então eles contam a partir de O Cebreiro.

Com as compostelas em mãos, voltamos para a frente da Catedral, onde o Diego nos esperava com nossas mochilas.


Agora que já estávamos felizes da vida e tínhamos parado de chorar, ficamos ali nos divertindo -- eu e o Diego até dançamos salsa! E tiramos fotos creiças, com a bandeira do Brasil e essas cafonices que fazemos quando viajamos.

Dia 10: Santiago de Compostela (Espanha) - Compostela, hotel, briga, paz e jantar
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Então nos demos conta de que não tínhamos onde dormir e precisávamos procurar uma hospedagem urgente. Saímos caminhando pelo centro, em busca de um albergue ou de uma pensão -- como se não estivéssemos nada cansadas depois dos 30 Km da etapa do dia. E começou o drama: estava tudo lotado e todos os lugares eram caríssimos.


Andamos, andamos, andamos até chegarmos ao hotel A Tafona do Peregrino (Rúa da Virxe da Cerca, 7), que tinha dois quartos vagos. Perfeito para nós se não fosse o preço -- cada quarto custava 90 euros.

Aí começou a discussão. Eu não queria gastar tudo aquilo, não estava nos meus planos, e eu tinha mais 20 dias de viagem pela frente, incluindo Paris, a cidade mais cara do mundo. A Cintia começou a dizer que ela pagaria, mas eu não queria ficar devendo nada pra ninguém. Começamos a brigar. Falei que luxo e conforto não eram o sentido da viagem e ela dizendo que não se importava porque estava muito cansada e queria um lugar decente para ficar. Gritamos feito duas loucas e quase saímos na mão. Nisso, o Diego tentando nos acalmar e o recepcionista mandando-nos falar baixo para não incomodar os outros hóspedes. Enquanto trocávamos berros e insultos, o Diego pagou pelos dois quartos sem nem percebermos. 

Ele me mandou entrar para me acalmar e eu fui. Cinco minutos depois, a Cintia entrou no quarto para que resolvêssemos aquela situação. Mas estávamos tão nervosas que pioramos tudo. Em vez de fazermos as pazes, brigamos mais ainda. 

Resolvi tomar um banho e deixar as coisas como estavam. O Diego foi lá fora conversar com ela e, depois de um tempo, voltou para conversar comigo. Ele disse que eu precisava ser mais flexível porque não estava viajando sozinha. E eu me defendia alegando que o sentido da minha viagem era outro -- eu queria justamente aprender o desapego, e não ficar em hotel com diária a R$ 350

Eu estava arrumando as minhas coisas e a Cintia chegou, mais calma. Comecei a chorar. Explicamos nossos pontos de vista uma para a outra e, ao final, nos abraçamos, chorando. Pedimos desculpas e ficou tudo bem. Ela contou que, enquanto estava lá fora, o recepcionista perguntou:

-- Vocês chegaram hoje?
-- Sim -- respondeu a Cintia.
-- Ah, normal. Isso acontece sempre.  

Dizem que tem casal que se separa, que tem amigo que sai no tapa... Sempre por motivos idiotas como foi o motivo pelo qual brigamos. As pessoas chegam em Santiago de Compostela esgotadas e com as emoções à flor da pele. Tudo isso faz parte. E depois sempre fica tudo bem. :)

Depois de nós três tomarmos banho (que chuveiro incrível, meu Deus!) e conversarmos, saímos para comer. Já eram quase 22h e a lanchonete La Empanadilla & Co. (Rúa das Casas Reais, 15704), que era ali do lado, fechava às 23h. Corremos. E aí tivemos uma grande recompensa: a comida era maravilhosa! 


Quando voltamos para o hotel, foi a vez da choradeira do meu romance de verão que, sabemos, dificilmente "sobe a serra". A Cintia foi dormir e eu e Diego ficamos conversando até, sei lá, 2h da manhã. Estávamos tristes porque no dia seguinte teríamos que nos separar e não sabíamos quando nos veríamos de novo. Ele citou Madre Teresa de Calcutá, que dizia que ninguém tem o direito de entrar ou sair da vida de alguém sem deixar algo de si e sem levar algo do outro, e afirmou que eu podia ter a certeza de que ele estava levando algo muito especial de mim. Foi um momento lindo que eu guardarei pra sempre.

Dormimos feito anjos, naquelas camas deliciosas do hotel. No fim, apesar dos pesares, valeu a pena.  

Beijos,

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Sobre Luciana Sabbag

Jornalista, 36 anos, canceriana, chorona. Se emociona com tudo. Vive sem muito planejamento, mas com muitos planos.

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