Home » , , » Dia 5: Caminho de Santiago (Espanha) - De Tríacastela a Sarria

Dia 5: Caminho de Santiago (Espanha) - De Tríacastela a Sarria

Written By Luciana Sabbag on terça-feira, julho 07, 2015 | terça-feira, julho 07, 2015

Fazia o maior frio quando acordamos, às 6h30 da manhã da terça-feira, 2 de junho, em Tríacastela. Não dormi muito bem porque acordava a cada mexidinha que as pessoas davam no meu quarto do Albergue Aitzenea, a hospedagem que escolhemos quando chegamos à cidade. Tirando o casal amoroso que estava no nosso quarto, trocando carícias e risadinhas, gostamos bastante do albergue. Era bem limpinho e organizado.


Esperei meu celular carregar e saímos. Como ainda era muito cedo, não havia nada aberto para tomarmos café da manhã. Sempre tínhamos algumas bobeirinhas na mochila, como biscoitos e Toddynho, que nos salvavam em dias como este, em que tivemos andar muitos e muitos quilômetros até chegarmos a alguma cidade.


Na saída de Tríacastela, há uma bifurcação, porque é possível seguir dois caminhos diferentes para Sarria: um, maior, porém mais plano, passando por Samos, onde há um mosteiro incrível que merece a visita; e outro, que passa por San Xil e Montán, que tem uma subida absurda de mais de 300m.

Saída de Tríacastela
Queríamos ir por Samos, claro. Quando chegamos à bifurcação, seguimos em direção à placa que indicava esta cidade - e por onde todos os peregrinos estavam indo. Não sabemos em que momento começamos a seguir o caminho errado - e só nos demos conta de que "ué! Já deveríamos ter passado por Samos!" quando chegamos a San Xil (um pueblo com zero habitante humano).  


Esta etapa é muito, muito pesada. Caminhamos por muitas horas, no meio da floresta, e não chegávamos a lugar nenhum, nunca. Mas pior que a subida eterna eram a sede e a fome.

Subida eterna

Não aguentávamos mais! A primeira fonte de água que encontramos foi depois de 4 Km de caminhada. E só encontramos um lugar para comer em Montán (depois de quase 8 Km), onde havia uma mesa, posta por um habitante, pedindo doações em troca de comida. Achei lindo e fiquei felicíssima em poder comer uma maçã e uma banana! Como eu sentia falta de frutas!

Mais uma subidinha?
Subimos, subimos e subimos, até que finalmente encontramos um albergue/restaurante, em Furela: a Casa do Franco (Furela, Km 120). Já havíamos andado 10,4 Km quando pudemos comer alguma coisa - e, obviamente, comemos pão com presunto. Não há muitas opções de comida no Caminho de Santiago: ou se come tortilla, ou pan con jamón y queso, ou empanada. 

Ficamos descansando na Casa do Franco por um tempão. Não tínhamos coragem de levantar e seguir. Tudo doía! E eu me apaixonei pelo cachorrinho da casa. :P


Faltavam mais de 12 Km para terminarmos a etapa do dia e o sol estava escaldante. Foi difícil, mas seguimos. Quando faltavam 4 Km para Sarria, em Aguiada, um vilarejo um pouquinho maior, encontramos a Taberna do Camiño, onde paramos para tomar alguma coisa e descansar. Lá, conhecemos um grupo de brasileiros, do Rio Grande do Sul, que nos deu uma animada. 

Brasil-il-il!
Uma das mulheres do grupo, a Luciane (de laranja), minha quase-xará, havia reservado um albergue em Sarria e nos aconselhou a ficar lá também. Quando chegamos à cidade, horas depois, a primeira coisa que fizemos foi procurar o albergue que ela tinha indicado. 


Chegar em Sarria, a maior cidade da Galícia, com 8 mil habitantes, foi um alívio enorme! Estávamos realmente muito, mas muito cansadas. Foram 23,5 Km de pura subida. O cansaço era tão grande que, em alguns momentos, tivemos crises de riso e xingávamos tudo que víamos. 

Encontramos o albergue Alma do Camiño (Calle de Calvo Sotello, 199) e pagamos 6,50 euros pela hospedagem. Que maravilha! Ainda nos colocaram no quarto dos brasileiros que, quando nos viram, logo perguntaram: "chegaram só agora?!". Pois é. Sempre éramos as últimas! E desta vez ainda chegamos antes das 17h - o que foi praticamente um milagre.

O Alma do Camiño tinha os melhores recepcionistas do mundo. Super gentis, simpáticos e prestativos. Nos ofereceram água quando chegamos exaustas, nos ajudaram com as mochilas, nos deram a beliche mais legal e ainda solucionaram o "problema" de não termos conhecido o Monasterio de Samos: eles chamaram uma taxista, que nos levou e nos buscou (por 22 euros). 


Antes de sairmos, passamos no mercado pertinho do albergue e fizemos umas comprinhas. Fui logo pegando caixinhas e caixinhas de suco de laranja e frutas para comer no café da manhã - eu não sabia quando teria a oportunidade de entrar num mercado novamente e não aguentava mais comer só pão! Minha mochila ficou ainda mais pesada, mas era o jeito. 

Às 17h30, nossa taxista chegou. Um amor, mas corria feito uma doida pela estrada. Hahaha. Em Samos, chegamos ao Monasterio. Não sabíamos como era - a única coisa que eu sabia era que lá havia acolhida religiosa para os peregrinos e, antes de viajar, eu planejava me hospedar por lá. Ainda bem que não o fiz, porque os monges falam pelos cotovelos (isso quando não fazem voto de silêncio, claro).

Fizemos a visita guiada que, dizem, demora 40 minutos (demorou muito mais!) - o que nos custou 3 euros cada uma. Conhecemos os jardins, as habitações dos enclausurados, a sacristia e a igreja. 


Realmente é muito lindo e vale a pena. Mas duro é aguentar o monge falando e falando e falando sobre a história da Galícia, da Família Real, dos conflitos...





Quando terminamos a visita, nossa taxista nos levou de volta à Sarria. Tomamos banho e fomos dormir. Eu, trouxa, lavei o cabelo às 21h e, obviamente dormi de cabelo molhado. Dica mais valiosa que aprendi: tomar banho assim que chegar para dar tempo de o cabelo secar. :P

Abaixo, o trajeto que fizemos a pé. Mais uma vez o Google não mostra os vilarejos que não existem no mapa (literalmente) e, por isso, apresenta uma distância menor do que a verdadeira - não foram 20,3Km, foram 23,5 Km. De todo o meu Caminho, acho que esta etapa foi a mais difícil, com as piores subidas e com menos facilidades no trajeto.



Mas depois melhora. :P

Veja todos os posts do Caminho de Santiago aqui.

Beijos,


SHARE

Sobre Luciana Sabbag

Jornalista, 36 anos, canceriana, chorona. Se emociona com tudo. Vive sem muito planejamento, mas com muitos planos.

0 comentários :

Postar um comentário